Cecília estava super, hiper, mega ansiosa. Cristina tinha conseguido que ela fosse convidada para o baile na casa da Estela.
Nos anos 70 e 80 era muito comum os jovens darem festinhas, bailinhos nas garagens das casas. Eram muitos divertidos. Pouca comida e muita música. As vitrolinhas e seus LPs e compact disc. As caixas de som penduradas, pouca iluminação e pronto! Havia bailes em que rolava muita Cuba libres, um drink à base de run, coca-cola e limão e Ri fi, Crush com vodka, porém como o grupo de Cecília era formado por grupos de jovens, nos bailes que Cecília freqüentava não havia bebidas alcoólicas. Só refrigerante e água.
Cecília teve um trabalhão para conseguir a permissão de seus pais para ir ao baile. Tanto pediu, implorou que os pais acabaram deixando. Com uma condição:
- Cecília, está bem, você vai mais onze horas em casa! Disse dona Clarisse
- Que tal onze e meia, mamãe?
- Onze horas e se reclamar, dona Ciça, dez e meia!
- Tá bom! Tá bom!
Cecília estava se aprontando. Não tinha muita opção em roupas, não! Olhou o guardarroupa! Pegou uma camisa branca, uma calça jeans. Um par de sapatos pretos de salto e estava pronta!
Olhou-se no espelho e gostou do que viu. O sutiã branco era acentuado pela camisa branca e tornava bem atraente seus pequenos seios. A calça jeans marcava sensualmente seus quadris e os sapato alto a deixa com aparência de mais velha.
Passou uma camada bem fina de lápis preto nos olhos, que os tornaram enormes. Uma leve sombra verde e um brilho transparente nos lábios. Escovou várias vezes os longos cabelos castanhos claros, até que eles ficaram brilhantes. Um par de brincos e pronto!
Sete horas e Cecília estava a caminho da casa da Estela. No caminho ia mentalizando: "É hoje, é hoje! "
Da esquina podia ouvir o som! Bee Gee cantava Stayn Alive. Assim que entrou na garagem viu um grupo que dançava a coreografia no meio da garagem. Todos dançando iguaiszinhos. Cecília correu, se posicionou junto a eles e logo estava no mesmo passo e ritmo que eles. Delícia! A música terminou e começou Saturday Night Fever e dá- lhe mais passinhos. Terminou a música e todos resolveram tomar algo para se refrescar.
Então Cecília começou a cumprimentar um a um.
-Cris, você está linda!
Cris vestia um vestido vermelho, de frente única, Cris possuía seios volumosos o que valorizava ainda mais o vestido. Ela era mais baixa que Ciça, tinha os cabelos louros bem curtinhos e a pele bem bronzeadas e imensos olhos azuis! Estava incrivelmente sexy.
- Ciça, você também está uma gata! Adorei seu brinco de argolas..
- E então, Cris? E o Dê? Já chegou?
- Não, ainda não! Não sei o porquê! Se ele não vier, acho que me mato!
- Calma Cris, ainda não são nem oito horas.
- É, eu sei, mas isso nunca aconteceu antes, ele sempre chega primeiro.
- Mas, me conta. E o Gê?
- Verdade! Ai, Ciça nem te conto! Falei com o Géio e ele falou para o Gê que você está afim dele.
- Jura? E aí?
- E aí que ele nem acreditou. Disse que o Géio estava tirando uma com a cara dele.
-É mesmo? E por quê? Por que eu não poderia estar a fim dele?
- Ciça cai na real. Você pareceu um begato de tão branca. Chega ter até sardas... E ele é pardo!
- Pardo? Ora, ele é moreno! Gosto de morenos...
- Bom, amiga, agora ele já sabe, foi dada a dica, agora você precisa dar mais na cara... Para ele ter certeza que você está afim. Sabe?
- Sei não, Cris! Vou ficar encarando.
Nesse momento o portão se abre mais uma vez e Geraldo é o primeiro a entrar, está com um camisa pólo azul clara e jeans. Cecília olha e aprova o que vê. O azul claro cai bem para ele. Ele cumprimentando as pessoas e atrás dele surge Ademir com um morena altíssima pendurada nele. Ademir é bem alto. Tem um metro e oitenta. A morena deve ter então um metro e setenta ou setenta e cinco. Alta, morena e linda! Cristina leva um choque e nem consegue falar. Cecília percebendo o estado da amiga, a leva para o banheiro.
- Cris, calma!
- Calma nada, Ciça! Desgraçado! De onde ele tirou aquele pau de virar tripa? Você conhece? Da igreja ela não é.
- Cris, nunca a vi! Mas, deve haver uma explicação!
- Oh, sim! Eles estão namorando e eu vou morrer!
- Cris, não seja melodramática.
- Melodramática? Melodramática? Ele deu a entender que me pediria em namoro hoje!
- Está bem, Cris! Vamos lavar esse rosto, retocar a maquiagem e vamos voltar! Mostre a ele que você é superior! Não existe só ele de garoto..
- Mas, Ciça, é dele que eu gosto!
- Sei, sei! Agora, assim, isso! Podemos voltar!
Quando elas entraram na garagem estava tocando uma música lenta, o que significava o momento de casais dançarem agarradinhos. Um rapaz convidava uma garota para dançar com ele, caso ela o recusasse, não poderia dançar, durante aquela música, com mais ninguém! Ele podia convidar outra e se a outra aceitasse, ele poderia dançar numa boa! Já a garota que não havia aceitado a dança, só na próxima! Um baita injustiça! Mas, enfim, vivemos até hoje em um mundo chovinista! Se a moça recusasse um e aceitasse um outro logo após, durante a mesma música, ah, era briga na certa, por isso a garota não aceitava!
Bom, então a chamada seleção de lenta já tinha começado. Vários casais estavam dançando. A dança consistia em ficar abraçadinhos ao som da música lenta. O garoto envolvia a cintura da garota e ela o pescoço dele. Ficam assim, juntinhos, com os rostos coladinhos! Nesse momento é que muitos começavam a namorar. Era muito romântico. Os sussurros ao pé do ouvido. Muitas vezes rolavam beijinhos ou beijos homéricos na frente de todos. Enfim, era o ponto máximo do baile. Geralmente havia duas seleções. Uma de musicas nacionais, outra de internacionais. Estavam no meio da de músicas nacionais. Começou tocar "Foi Deus quem fez você com Amelinha.
♫ ♫Foi Deus que fez o céu, o rancho das estrelas,
fez também o seresteiro para conversas com ela.♫ ♫
É aí que Cecília sente um leve toque no ombro esquerdo, ela se vira e dá de encontro com o par de olhos mais negros que ela já tinha visto!
- Cecília, quer dançar comigo?
- Sim, Geraldo!
♫ ♫ Fez a lua que prateia
Minha estrada de sorrisos
E a serpente que expulsou
Mais de um milhão do paraíso.♫ ♫
Ele pegou na mão de Cecília! Ela sentia que ele tremia. Ou seria ela? Foram para o meio da garagem, se abraçaram e seguiam o ritmo da música. Ela sentia as batidas do coração dele junto ao peito.
♫ ♫ Foi Deus quem fez você;
Foi Deus que fez o amor;
Fez nascer a eternidade
Num momento de carinho.♫ ♫
Ele sussurrava palavras e se arrepiava, mas Cecília não conseguia compreendê-las.
♫ ♫Fez até o anonimato
Dos afetos escondidos
E a saudade dos amores
Que já foram destruídos.
Foi Deus!♫ ♫
Cecília estava apreensiva. " e se ele resolve me beijar agora? Ai, meu Deus, ai, meu Deus"
♫ ♫ Foi Deus que fez o vento
Que sopra os teus cabelos;
Foi Deus quem fez o orvalho
Que molha o teu olhar. Teu olhar...♫ ♫
Geraldo apertou mais o corpo ao de Cecília, ficaram ainda mais agarradinhos, como se isso fosse possível. As mãos dele massageando as costas dela. A apreensão de Cecília aumentou
♫ ♫ Foi Deus que fez as noites
E o violão plangente;
Foi Deus que fez a gente
Somente para amar. Só para amar... ♫ ♫
E assim a música termina. Cada um para um lado. Ele não disse nem uma palavra, ela também não. Ele se juntou ao grupo de rapazes e elas ao das moças.
"Como assim? Como assim?" Cecília não para de pensar. "Como assim?
Ele convida mais umas garotas para dançar e Cecília também dança com outros.
Cecília está inconformada, mas não tanto quanto Cristina. Se para Cecília o baile foi decepcionante, para Cristina foi medonho. O pior dos pesadelos. Ademir não a convidou Cristina nenhuma vez para dançar. Dançou o tempo todo com a garota, que a essa altura todos já sabiam o nome: Simone.
Cristina já havia combinado que dormiria na casa de Cecília e ambas foram embora juntas e chegaram na casa de Cecília exatamente às onze horas.
Ah, esse madrugada seria longa!
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