E, ela continua linda...

            Na boa, há pessoas que deixam marcas indeléveis em nossas vidas. Hoje, depois de trinta e quatro anos, reencontrei minha professora de português do ginásio. Dona Ana Narcisa. Ah, abençoada Internet que tornou isso possível. A melhor e mais dedicada professora que tive. Ela não se preocupava em ensinar português apenas, ela nos educava.

         Sabem o campeonato de verbos? Ela é a autora. Sabem quando eu cobrava 0,50 centavos de quem falava palavrões? E, depois com o dinheiro arrecadado, eu comprava livros e os sorteava entre vocês? Ideia dela. Só que como naquela época,  não falávamos palavrão na sala, ela cobrava de quem balançava na cadeira. Eu só adaptei.

         Lembro-me dela pedindo que sentássemos direito, para assim, não prejudicarmos a coluna. Lembro-me dela, pedindo que levássemos detergente misturado com água num frasquinho para limparmos as carteiras. "Vocês não merecem estudar nessas carteiras imundas". Ela pedia para a diretora separar as meninas dos meninos, só para nos dar aula sobre sexo.

         Lembro- me das vezes, que levava para ela doce de mamão caseiro. Como eu era feliz. Sentia-me o máximo! A aula dela era sempre depois do intervalo, havia um árvore na frente da sala e um zilhão de pássaros pretos se recolhendo, era um barulhão  danado e atrapalhava a melhor aula, que raiva.

          E, quando, antes de acabar a sétima série, ela nos deixou, ( havia um surto de rubéola e ela estava grávida) ficamos sem chão. Mesmo assim, fizemos uma festinha de despedida com bolo e música... Música do Roberto Carlos, claro. Eu levei a vitrolinha.

♪♫ Todo tempo que eu vivi, procurando um caminho, só cheguei a conclusão que não vou achar sozinho..  Ô ôô Ana, Anaaaa, que saudade de você ♪♫
         Houve um passeio ao metrô, íamos visitar tudo por lá, as salas onde ficavam os operadores... Mó da hora. Quando falei que eu não ia, ela perguntou por quê? E, eu disse que tinha medo da escada rolante. " Ah, mas você vai, sim. " " Pssora, eu tenho medo. Outro dia, fui com meu pai e passei a maior vergonha, eu emperrei na frente da escada e não saí do lugar". "Confia em mim?" E, eu confiei. E no metrô, sem deixar que a turma percebesse, pegou na minha mão e falou no meu ouvido. " Está vendo essa faixa amarela? Levante bem o pé, passe sobre ela e coloque-o no degrau, depois o outro." Simples assim... Ah, dona Ana, jamais te esquecerei... Há um lugar em meu coração que é seu, só seu prô. Muito obrigada. 
         Muito obrigada, Deus,  por tê-la colocado em nossos caminhos. Muito obrigada, prô, pelas Aventuras de Xisto, o Escaravelho do Diabo, A oitava série C e todos os outros livros que nos recomendou. Obrigada. Obrigada. Obrigada!