O que eu fiz para merecer?

          Na boa, estive refletindo e cheguei à uma conclusão que explica o porquê de estar vivendo um período tão atribulado na minha carreira. Sempre que dou sermão na sala de aula, falo da importância que há em nos preocuparmos com o que "plantamos", pois cedo ou tarde, "colheremos". Sempre falei em nome de Jesus, através das parábolas maravilhosas que Ele nos deixou, porém, não sei o que se passa com a maioria dos alunos de hoje, que além de não conhecer tais ensinamentos, ainda ficam se escarnecendo disso, fazendo gozações, blasfemando.                          Bom, fui aconselhada de que, ao invés de falar em nome de Deus, é melhor falar na lei da física de que "tudo que vai volta"... 

           Não sei se fiz bem, mas aceitei o conselho. Um dia falando sobre isso, uma aluna muiiiiito bem educada interrompeu-me e perguntou o que eu fiz de tão errado para me encontrar na sala de aula. E aquilo bateu fundo em mim. Fiquei pensando, "Meus Deus, que eu fiz de tão errado?". Mergulhei no meu passado e como num filme, fui vendo minha vida de estudante. 

         Encontrei uma garota que cumpria todas as tarefas, uma garota super solidária, sempre defendendo os mais fracos, sempre querendo ajudar. Falava pelos cotovelos,  é verdade, mas a maioria dos professores gostavam de mim. Então, o que será que eu fiz? Pensei, pensei e lembrei-me de uma única vez, uma única vez desrespeitei um professor, só pode ser isso... Desrespeitei uma professora e até hoje morro de remorsos, só pode ser isso... É, aqui se faz, aqui se paga. Ainda bem, que foi uma vez só, que justifica que somente quatro anos que tenho pagado tanto.

             Bem, eu estava na oitava série e estava na aula de OSPB. Organização Social e Política Brasileira, era uma matéria imposta pelo militarismo da época, ou seja, ditadura. Para falar a verdade eu até gostava. Na quinta, sexta e sétima séries era Educação Moral e cívica. E minha professora Yasuko nos deu aula os quatro anos, eu a amava de paixão. Ela era magrinha  e não media mais que um metro e meio. Pois, foi ela que desrespeitei, foi para ela que eu respondi, sabem como é, adolescente não pode ser chamado atenção em grupo que logo se ofende. Pois, bem, naquela aula ela nos estava ensinando o hino da república. "Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós". Estávamos todos prestando atenção, quando minha the best Rosangela perguntou: "Isabel, já aprendemos tantos hinos, o da bandeira, do expedicionário, nacional, da independência..." e eu: " o da independência é o melhor". "Qual é mesmo?" e eu bem baixinho cantei, bom, nem tão baixinho, pois a prô ouviu. " Já podeis a pátria livre, ver contente a mãe gentil"... Aí a prô falou: "Isabel?" ih,  "Sim, professora?" "Você gosta de cantar?" "Adoro" , "Então, que tal aprender?" Nem preciso dizer que a turma toda caiu na gargalhada e eu muito humilhada, logo atirei.  "Pssora, pode deixar, eu vou aprender a cantar tão bem, que vou cantar até no Japão." "Ah, acho que não, o Japão não aceita qualquer um lá" Ao que eu perguntei: " É por isso que a senhora está aqui no Brasil?"
               Ela me mandou para a diretoria e pasmem, quando falei com a diretora ela caiu na gargalhada, logo depois se corrigiu, me passou um sabão e mandou uma convocação para os meus pais. Me ferrei. Minha mãe é daquelas que dizia, quando professor te der bronca, mesmo que você "achar" que esteja certa. Achar que a professora esteja sendo injusta, mesmo, assim, peça desculpas, é o melhor a fazer, pois professora é a segunda mãe, é devemos sempre respeitar os mais velhos. Minha mãe só fez até a quarta série, mas que mulher sábia, dá de cem a zero em muitas mães universitárias de hoje em dia...por que eu não a obedeci? Se tivesse feito isso, não teria o remorso que tenho hoje. Depois desse dia, meu moral com a turma cresceu, porém meu relacionamento com a pssora Yasuko nunca mais foi o mesmo. Felizmente, estávamos no terceiro bimestre da oitava. Quatro anos fui aluna dela, quatro anos, e num único dia joguei tudo no lixo. Muitos poderão dizer, que ela não deveria ter me humilhado. Mas, hoje, como professora eu sei, que somos de carne e osso, ela devia estar com algum problema, eu é que deveria ter seguido o conselho de minha mãe e acabar com o problema, com um único " desculpa aí, pssora, não canto mais. 
                 Ah, se eu pudesse voltar no tempo...